Nos dias de hoje, ouve-se falar muito em Qualidade de
Vida e como podemos fazer para sermos saudáveis, certo? Este texto vem falar um
pouco sobre esse conceito super importante e também sobre a Sonolência Diurna
Excessiva, um sintoma muito comum em quem sofre com problemas de sono.
Segundo muitos autores, o conceito de qualidade de vida
está associado ao bem-estar pessoal e a auto-estima, abrangendo diversos
aspectos, como: a capacidade funcional, o estado emocional, o nível
socioeconômico, a interação social, a atividade intelectual, o suporte
familiar, o auto-cuidado, o próprio estado de saúde, os valores éticos,
culturais e a religiosidade (SANTOS, SANTOS & FERNANDES, 2002, apud RIOS, PEIXOTO & SENRA, 2008).
De acordo com Morch e Toni (2005), o sono é considerado
uma necessidade física primordial para uma boa qualidade de vida, pois é
durante ele que ocorre um estado de profundo relaxamento dos músculos
corporais, bem como a restauração física e cognitiva do organismo, permitindo,
dessa forma, que o indivíduo esteja bem para desempenhar as atividades do
cotidiano.
Podemos perceber a função restauradora do sono tanto
quando temos uma noite de sono tranquila e quando acordamos estamos mais
dispostos para desempenhar as atividades do dia a dia; como também quando não
dormimos bem, certo? Pois quando o sono não é reparador, já acordamos cansados,
com “preguiça” de fazer nossas atividades, bocejamos durante o dia e não vemos
a hora de podermos dormir novamente. Pensando a respeito, como você percebe o
seu sono ultimamente?
Existem alguns distúrbios que acometem o sono, esses
chamados de Distúrbios do Sono e entre os mais frequentes está a Sonolência
Diurna Excessiva (SDE), que afeta de 4 a 12% da população geral (SOUZA, MAGNA
& REIMÃO, 2003). Entre suas principais causas estão: a privação crônica de sono (sono
insuficiente), a narcolepsia, a Síndrome das Pernas Inquietas/Movimentos
Periódicos de Membros (SPI/ MPM), a Síndrome da Apnéia e Hipopnéia Obstrutiva
do Sono (SAHOS), Distúrbios do Ritmo Circadiano, o uso de drogas e medicações e
a hipersonia idiopática. Apesar de alguns autores classificarem a SDE como sendo
um distúrbio do sono, ela também é relatada como sintoma, causada pelos mesmos
distúrbios citados acima. Todos esses distúrbios trazem sintomas incômodos e
negativos para os pacientes, pois eles interferem diretamente no sono e,
consequentemente, em sua função restauradora.
Para
realizar um diagnóstico adequado para descoberta de um possível distúrbio do
sono, alguns procedimentos podem ser utilizados pelo seu médico, entre eles: a avaliação
clínica, o diário de sono, e exames objetivos e mais completos como a Polissonografia
(PSG). Durante a avaliação clínica, a história do sono é primordial para a
identificação da causa do problema, bem como investigar o uso de álcool e
outras drogas, a presença de distúrbios psiquiátricos ou psicopatológicos, doenças
clínicas ou neurológicas (OLEJNICZAK & FISH, 2003, apud BITTENCOURT, et al., 2005).
Outra
medida muito utilizada para avaliação se dá através
da Escola de Sonolência de Epworth, onde é pedido ao paciente que estime a
tendência de adormecer (cochilar) em oito situações cotidianas, fornecendo
notas de 0 à 3 (0 nenhuma-1 pequena-2 moderada-3 grande) quantificando a
probabilidade de adormecer. As notas são somadas, o total de 9 ou mais pontos é
indicativo da presença de SDE, e 16 ou mais pontos indica a possível existência
de um distúrbio respiratório ou apnéia do sono (SOUZA, PAIVA & REIMÃO,
2008).
Algumas
consequências da Sonolência Diurna
Excessiva podem ser verificadas, entre elas: a diminuição da produtividade no trabalho, o estresse psicológico e o aumento
do risco de acidentes.
Nos
últimos anos, as queixas de SDE têm sido também, relacionadas com o aumento dos
acidentes em rodovias, envolvendo caminhoneiros (DRUMMER et al., 2003 apud SOUZA, PAIVA
& REIMÃO, 2008). As pessoas que não dormem bem, tanto em quantidade como em
qualidade, apresentam graus variados de dificuldade de concentração, como
também respostas mais lentas a estímulos externos (FRIENDLEY, et al., 1986, apud CANANI & BARRETO, 2001). Consequências estas que acabam
por influenciar de forma negativa tanto no desempenho de funções mais simples,
como também nas mais elaboradas, pois interferem diretamente no bem estar
físico, emocional e psicológico. Sendo assim, a SDE pode prejudicar o indivíduo tanto no contexto pessoal, social e
também profissional. Além disso, para Giorelli et al. (2012), se trata de
uma condição debilitante do ponto de vista de qualidade de vida e força de
trabalho, trazendo consequências que podem provocar situações de risco de vida
em potencial tanto para o indivíduo quanto para a população.
Levando em consideração que a maior parte das pertubações psicológicas tem repercussões sobre o ciclo-sono-vigília e vice versa, a qualidade do sono acaba influenciando diretamente no bem estar psicólogico do indivíduo (GOMES, 2005). Dessa forma, a falta de um sono restaurador e saudável pode facilitar o surgimento de transtornos mentais, como também a presença de um transtorno mental pode influenciar diretamente na qualidade do sono do indivíduo. Dito isso, é de exterma importância que seja realizado um diagnóstico diferencial adequado para que sejam levantadas as causas, sintomas e também possíveis comordidades existentes.
Caso haja alguma comorbidade psicológica associada, o profissional psicólogo pode contribuir no tratamento do paciente através da Psicoterapia, auxiliando na busca das possíveis causas (estilo de vida, estresse, ansiedade, depressão, etc); como também no tratamento propriamente dito, visando melhorar a qualidade de sono e de vida do paciente.
Existem algumas orientações feitas por profissionais especialistas da área para se ter uma melhor qualidade de sono, essas orientações compõem um método chamado “A Higiene do Sono”, que tem por objetivo:
“[...] educar os hábitos relacionados à saúde (ex: a dieta, o exercício físico e o uso de sustâncias de abuso) e ao comportamento (ex: a luz, os barulhos, a temperatura e o colchão) que sejam benéficos ou prejudiciais ao sono.
As recomendações da higiene do sono incluem:
1) usar o quarto e a cama somente para dormir e praticar atividade sexual;
2) evitar o barulho (com tampão de ouvido), a luz (cortinas nas janelas) e a temperatura excessiva (cobertor/ar-condicionado) durante o período do sono;
3) evitar, entre outras, a cafeína, a nicotina e as bebidas alcoólicas nas últimas 4-6 horas que antecedem o sono” (PASSOS, TUFIK, SANTANA, POYARES & MELLO, 2007).
A qualidade de vida e a produtividade destes pacientes podem ser melhoradas com o auxílio de um tratamento adequado e, por ser uma situação tratável, deve ser dada importância no seu diagnóstico e nos benefícios trazidos pelo manejo correto das suas causas (GIORELLI, SANTOS, CARNAVAL & GOMES, 2012).
É indicado que o tratamento seja realizado por uma equipe multidisciplinar, trabalhando pelo objetivo comum de melhora do paciente. Desta maneira, cada profissional fará o que estiver dentro de sua área de formação para alcançar esse objetivo comum. Os profissionais que atuam na área do sono e podem proporcionar um melhor tratamento ao paciente são: Médicos Especialistas em Sono (Pneumologistas, Otorrinolaringologistas, Psiquiatras, Neurologistas), Fisioterapeutas, Cirurgiões-Dentistas, Nutricionistas, Fonoaudiólogos e Psicólogos.
Jéssica Karolina Rodrigues
Psicóloga (CRP12/13631)
e Colaboradora Sleep Clínica
Bittencourt, L. R. A., Silva, R. S., Santos, R. F., Pires, M. L. N., & de Mello, M. T. Sonolência excessiva. Rev Bras Psiquiatr, 27(Supl I), 16-21. São Paulo, 2005.
Canani, S. F., & Barreto, S. S. M. Sonolência e acidentes automobilísticos. J pneumol, 27(2), 94-6. São Paulo, 2001.
Giorelli, A. S., Santos, P. P. D., Carnaval, T., & Gomes, M. D. M. Sonolência excessiva diurna: aspectos clínicos, diagnósticos e terapêuticos. Revista Brasileira de Neurologia, 48(3), 17-24. Rio de Janeiro, 2012.
Gomes, A. Sono, sucesso acadêmico e bem-estar em estudantes universitários. Dissertação de Doutoramento. Aveiro. Universidade de Aveiro, 2005.
Morch, F.L., Toni, P.M. A influência da privação do sono na qualidade de vida. IX Seminário de pesquisa, iniciação científica. nov, 2005.
Passos G. S., Tufik S., Santana M.G., Poyares D., Mello M.T. Tratamento não farmacológico para insônia crônica. 29(3):279–82. Revista Brasileira de Psiquiatria. São Paulo, 2007.
Rios, A. L. M., Peixoto, M. D. F. T., & Senra, V. L. F. Transtornos do Sono, Qualidade de vida e Tratamento Psicológico. Monografia de Licenciatura, Universidade Vale do Rio Doce (Brasil), Faculdade de Ciências Humanas e Sociais. Governador Valadares, Minas Gerais, 2008.
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